A média histórica de sobrevivência das empresas legalmente constituídas ao redor do mundo gira em torno de 40 anos, tempo suficiente para promover a alegria ou a tristeza de uma ou duas gerações, no máximo.

Na medida em que as empresas crescem, favorecidas pelo espírito empreendedor dos fundadores ou pelo desenvolvimento econômico do país, o número de herdeiros tende a crescer bem mais do que os números da empresa. Com isso, o nível de conflitos gerados por inveja, desconfianças ou mesmo insegurança daqueles que vão surgindo ao longo da história, aumenta na mesma proporção.

No caminho, existe ainda a questão dos agregados de toda ordem, além dos filhos. São os cunhados, as noras, os genros, os netos e os próprios empregados mais próximos que, embora não tenham participado do nascimento e tampouco do desenvolvimento da empresa, acabam opinando e influenciando os familiares com um pouco mais de lenha na fogueira.

Em determinado momento, o instinto de sobrevivência, influenciado pelo gene egoísta do ser humano, fala mais alto que a racionalidade necessária para manter o negócio nos trilhos, possível de ser administrado.

Como me disse certa vez o prof. Oriovisto Guimarães, fundador do Grupo Positivo, em entrevista para o meu livro Manual do Empreendedor, haverá aquele momento em que você não manda mais nada, portanto, ou você aceita a mudança ou será atropelado por ela.

Apesar de estarmos no século 21, muitas empresas ainda resistem quanto ao processo de mudança necessário para modernizar e perpetuar o negócio da família. Em tese, quanto maior a empresa, maior a complexidade para administrar os múltiplos interesses que surgem de todos os lados.

Na prática, enquanto a decisão não vem, o sofrimento é inevitável, tanto para os sócios quanto para os empregados. Além disso, em meio ao caos, alguns se valem da fragilidade temporária para inflar ainda mais os ânimos em busca de proteção e de benefícios exclusivamente pessoais.

O que fazer, então? Para onde correr? Aposto que você seria capaz de afirmar que, assim como criou o problema, seria capaz de resolvê-lo. Por experiência, digo que é possível, mas são poucas as empresas que têm coragem e conhecimento necessário para tomar decisões impopulares a ponto de cortar a própria carne e a fim de manter a vitalidade do negócio.

Dessa forma, deixe-me compartilhar a experiência de quem já passou por oito empresas diferentes em mais de 25 anos e dezenas de empresas familiares, em quase dez anos de consultoria. Vejamos isso por meio de ditos populares:

1. Coloque o peixe sobre a mesa: é o velho ditado siciliano; se você precisa resolver um conflito, reúna os interessados e fale abertamente, ou seja, comece a limpar o peixe antes de começar a feder; pare de andar em círculos para evitar o confronto; mais dia, menos dia, será necessário abordar o assunto, por bem ou por mal, depende apenas de quanto tempo você aguenta.

2. Quem tem um relógio sabe que horas são; quem tem dois, já não tem certeza: é o velho ditado chinês; quanto maior o número de pessoas consultadas, maior o grau de incerteza; isso acontece bastante em consultoria, pois quando você chama uma ou duas, você tem uma linha de conduta; quando você chama três ou quatro, as opiniões são diferentes e você se perde, sem contar ainda a influência dos empregados que nem sempre sabem o que fazer, mas resistirão ao máximo à consultoria.

3. Amigos, amigos, negócios à parte: é o ditado mais difícil de ser aplicado na empresa familiar; se a relação não estiver clara, as pessoas tendem a confundir patrão com pai-patrão; nesse caso, quanto maior o grau de amizade, maior a possibilidade de conflitos; como é que você vai demitir um amigo quando chegar esse dia?

4. O olho do dono é que engorda o gado: faz sentido quando aplicado na medida certa, porém o dono precisa de empregados competentes para cuidar do gado: veterinários, consultores, tratadores e assim por diante; quando você imagina que é capaz de fazer tudo, os filhos vão embora, os empregados se desmotivam e o fardo fica mais pesado.

5. Em time que está ganhando não se mexe: bobagem pura; o fato de o time estar ganhando não significa que não possa ir ainda melhor; em qualquer empresa, o nível de conspiração independe dos resultados. Portanto, se você quer de fato eliminar algumas crenças negativas, não tem outra maneira: elimine a conspiração e as fontes de complacência.

6. O tempo é o melhor remédio: na empresa familiar, o tempo não cura nada, apenas ameniza a dor e prorroga o sofrimento; a solução para problemas é o remédio amargo da decisão, inclusive, livrar-se daquelas pessoas que se criaram contigo, porém já não agregam mais valor ao negócio.

7. A fé remove montanhas: impossível de ser aplicado na empresa familiar; a fé ajuda, mas é necessário sabedoria para colocar as pessoas certas no lugar certo para fazer a coisa certa; consiga isso e vai conseguir remover a montanha; sem isso, a montanha vai aumentando de tamanho todos os dias até você não mais conseguir enxergar o outro lado.

Existem vários caminhos para a mudança. O que não existe, nesse caso, são milagres. Na empresa familiar, milagres dependem de pessoas que, na maioria dos casos, contentam-se com a zona de conforto e, de certa forma, não precisam de milagres.

Fonte: RH.com

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