Por Patrícia Bispo para o RH.com.br 

Dados comprovam que, cada vez mais, as mulheres se fazem mais presentes no mercado de trabalho. Em março deste ano, por exemplo, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) anunciou que o nível de emprego com carteira assinada apresentou um crescimento de quase 6% para o chamado “sexo frágil”. No tocante ao grau de instrução, o maior aumento da participação da mulher foi verificado nas vagas de nível superior, com um aumento 1,32%. No mesmo período, os homens apresentaram um percentual masculino foi negativo em 0,13%. A pesquisa foi divulgada a partir de informações obtidas através do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS 2011) do MTE. 

Uma vez que elas se mostram presentes no ambiente organizacional, nada mais natural do que também se destacarem ao assumirem a responsabilidade de gerir pessoas. Mas, será que existem diferenciais entre a liderança feminina e a masculina? Para Marcia Vespa, diretora de Educação Corporativa da Leme Consultoria, a resposta é dada rapidamente: sim, existem diferenciais. Homens e mulheres em posições de liderança, afirma Marcia, tendem a apresentar em grau de igualdade características como competição e autonomia – luta, agressividade para o negócio e iniciativa. “Um ponto relevante que distingue mulheres e homens no ambiente de trabalho é a capacidade de ouvir – uma escuta inteligente que demonstre atenção, compreensão e favorece o diálogo”, complementa. Em entrevista concedida ao RH.com.br, ela fala sobre os desafios que as mulheres enfrentam dentro e fora do ambiente de trabalho, principalmente quando precisam exercer o papel de mães e de esposas.
Marcia Vespa é uma das palestrantes do 7º ConviRH (Congresso Virtual de Recursos Humanos) – evento promovido pelo RH.com.br, que acontece no período de 16 a 31 de maio próximo. Na ocasião, juntamente com Rogerio Leme – diretor executivo da Leme Consultoria, a palestra virtual “Como levar a Missão, a Visão e os Valores para todos os Colaboradores”. Boa leitura e até a próxima!

RH.com.br – Existem diferenciais significativos entre a liderança feminina e a masculina? 
Marcia Vespa – Abordar este tema é sempre interessante, porque desmitifica as diferenças como sendo algo pejorativo. Sim, há diferenças significativas entre lideranças feminina e masculina. Que bom! A começar pelas diferenças da educação dos meninos e das meninas, as brincadeiras, ou seja, atributos inatos e adquiridos diferenciam personalidades, dimensões interpessoais e a constelação de atributos determinam os modelos de mando – homens e mulheres. Se nas lideranças masculinas nos deparamos com modelos de conduta e de gestão tão singulares e peculiares, com a forte presença da mulher no mercado de trabalho isso não poderia ser diferente. Do mesmo modo que enxergamos características que se sobrepõem. Homens e mulheres, em posições de liderança, tendem a apresentar em grau de igualdade características como competição e autonomia – luta, agressividade para o negócio e iniciativa. E um ponto relevante que distingue mulheres e homens no ambiente de trabalho é a capacidade de ouvir – uma escuta inteligente que demonstre atenção, compreensão e favorece o diálogo, pois traz o outro para o jogo; o apoio que favorece a comunicação, o desenvolvimento das pessoas e equipes, um esforço estoico de tornar as pessoas melhores como profissionais e como seres humanos e a sensibilidade feminina que favorece os relacionamentos e lhe dá o direito natural de exercer a empatia, a mais nobre das emoções, com maestria.

RH – Em que momento, o mercado passou a constatar essa diferença com mais clareza?
Marcia Vespa – A cada ano, o percentual de mulheres que adentra no mercado de trabalho cresce exponencialmente e, hoje, elas já desempenham um papel muito mais relevante do que os homens no crescimento da população economicamente ativa. Um dado que engrossa ainda mais estes números nos é trazido em pesquisas que apontam a redução de nascimentos de bebês do sexo masculino em países tropicais e em regiões com alto índice de poluição, o que também influencia o maior crescimento do número de mulheres no mercado de trabalho. Não obstante, a taxa de natalidade no Brasil já é semelhante à taxa de países europeus. Agora, vamos associar a isso o crescimento econômico do país, novas perspectivas, índice de escolaridade maior se comprado a outras décadas e a desvalorização da dona de casa, classificada pelas estatísticas como “inativas”, mesmo sendo indispensáveis para o bem-estar e a sobrevivência da família. Associe a isso, o mercado de trabalho que tem sofrido uma escassez de mão de obra sem precedentes. E todos nós sabemos que uma empresa cresce com pessoas, e não vai conseguir ser melhor ou maior do que as pessoas que têm. Se quem ama cuida, as empresas estão mais seletivas nas contratações e nas promoções, além de que hoje o profissional não é só escolhido, também escolhe onde e com quem deseja trabalhar.

RH – Quais os benefícios que a liderança feminina trouxe às empresas?
Marcia Vespa – Muitos, mas o principal tem sido a humanização destas e a demonstração clara que é possível obter excelentes resultados cuidando do clima organizacional, cuidando das pessoas e sendo acima de tudo confiável e transparente nas suas propostas, decisões e ações.

RH – Quais as dificuldades mais significativas que as mulheres enfrentam dentro das empresas, para mostrarem o potencial de liderança que ainda não foi percebido pela alta direção?
Marcia Vespa – Se esse potencial ainda não foi percebido pela alta direção, há falhas dos dois lados. Aguardar o dia em que alguém vai reconhecê-las é um grande engodo, pois pode não ocorrer nunca. A mulher precisa se pronunciar, expor para a chefia as suas metas estratégicas, de carreira, desenvolver-se e pedir feedback. Este pronunciamento a meu ver é um ponto de fragilidade.

RH – Geralmente, como os homens comportam-se quando se deparam com a notícia de que serão geridos por uma mulher?
Marcia Vespa – As pessoas podem se incomodar por todos os motivos, não necessariamente pelo fato de serem geridas por uma mulher. Descobrir as agendas ocultas é uma ação crucialmente importante para garantir o alinhamento das expectativas dos liderados com os propósitos de existência da organização e os principais objetivos e resultados.

RH – Existe espaço no mercado brasileiro, para que mulheres e homens exerçam cargos de liderança com igualdade?
Marcia Vespa – Uma coisa é o discurso e a outra bem diferente é a prática. O mundo empresarial tem uma natureza masculina: força, poder, agressividade, lucro, metas, caixa, margem, autoconfiança, competição. Saber compreender estas nuanças sem perder a essência da personalidade feminina e seus atributos sociais é o grande diferencial a ser explorado. Espaços para serem ocupados são muitos.

RH – Sabemos que além de profissional, a mulher exerce outros papéis que exigem muita dedicação como, por exemplo, ser mãe, esposa. Elas estão conseguindo conciliar a vida pessoal e profissional?
Marcia Vespa – Conciliar trabalho, filhos e casa não é tarefa simples. Basta confrontar a diferença entre dedicação masculina e a feminina aos afazeres domésticos. A nossa sociedade é machista e o mundo corporativo ainda é masculino. Veja o exemplo: tradicionalmente se uma mulher optar por abdicar do emprego em função dos filhos, ela não será “condenada”. Mas, se algo acontecer com os filhos, seja lá o que for, ela certamente será penalizada pela sociedade. Existe um estigma impregnado – que a mulher está derrubando a duras penas – regado a uma autocobrança que é implacável. A presença de filho é um fator que sempre estará presente na decisão da mulher ingressar ou se manter no trabalho. Ainda que a presença de crianças pequenas seja um limitador real da atividade feminina, algumas variáveis podem estimulá-la a se manter produtiva no emprego. Os projetos especiais para atender as necessidades das colaboradoras tornam-se uma tendência nas empresas e podem ajudá-las a vencer este desafio. Os ganhos para a empresa são mensuráveis: redução do índice de absenteísmo, aumento da produtividade e qualidade da entrega – dívida moral; redução do turnover; redução de desperdício e retrabalhos. Esta mesma mulher bem cuidada propagará no ambiente externo a alegria de se fazer pertencer, o que redundará em melhora no índice de atração e retenção de pessoas.

RH – Quais os fatores mais estressantes que giram em torno das mulheres que exercem cargos de liderança?
Marcia Vespa – A meu ver quando os seus valores são agredidos. Mulher é mãe. Mãe é educação, é cuidado, é aprendizado. Todos nos assustamos com a incerteza em todos os aspectos das nossas vidas. É sensato afirmar que o ser humano precisa ter uma ideia clara de para onde vai e para onde quer ir, ter um projeto que lhe permita focalizar, ambicionar e dirigir seus esforços para a conquista de seus desejos e de suas expectativas. Os valores finais são variáveis criticas para o sucesso da empresa e da carreira feminina. Indicadores de desvitalização cultural, um discurso incoerente com a prática, tendem a minar a energia da profissional.

RH – A senhora gostaria de deixar algum recado para as mulheres que nesse momento almejam conquistar um cargo de liderança?
Marcia Vespa – Mulheres, a natureza nunca conspirou tanto a nosso favor como no momento atual. Faça por merecer, pois nada será fácil. A vida só exige daqueles que têm condições de entrega. Quanto mais você faz, mais o mundo lhe dará tarefas, responsabilidades, porque o mundo deseja saber se você dá conta. Deixe o seu legado. Construa um mundo melhor com as mais nobres das suas convicções. Por que um dia, você chegará lá. Com certeza chegará!

Fonte: rh.com.br, 07/05/2013

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