O futuro do MBA e da Educação Executiva

Em artigo, Rivadávia Drummond alerta para problemas e oportunidades que envolvem os cursos de MBA pelo mundo

Ao examinarmos tendências nos programas internacionais de MBA, observamos que o modelo estadunidense tradicional denominado Full-Time MBA, com duração de dois anos em regime de dedicação exclusiva, vem perdendo espaço como modelo dominante. Um conjunto de outras ofertas e possibilidades, como o MBA Part Time (em tempo parcial, normalmente às noites e/ou fins de semana), o Executive MBA (MBA para Executivos) e o MBA Online (totalmente ou parcialmente a distância, ampliado pelas possibilidades da “virtualidade”), vem sistematicamente abocanhando sua fatia no mercado global tradicionalmente dominado pelos Full-Time MBA. 

É importante que o leitor situe a problemática no ambiente brasileiro: aqui, o MBA tomou o formato da pós-graduação lato sensu e confere aos concluintes certificado, diferenciando-se da pós-graduação stricto sensu em administração, cujos concluintes são diplomados como mestres e doutores.  Autores como Henry Mintzberg, daMcGill University, Datar e Garvin, da Harvard Business School e Jeffrey Pfeffer, da Stanford Graduate School of Management, têm questionado o status quo e criticado as premissas/pilares que tradicionalmente sustentam tais programas. 

Já há algum tempo me debruço sobre o problema e tive a oportunidade de conhecer experiências na Europa, América do Norte, Ásia e África, tendo também participado de colóquios e seminários exclusivos no tema, como o MBA Roundtable, na Darden School of Business da Universidade da Virginia, e o Global Colloquium on Participant-Centered Learning, da Harvard Business School. 

Acirradas pelo declínio no número de matrículas observado nas escolas que compõem os rankings dos 30 melhores programas de MBA do mundo – segundo publicações como Business Week, The Economist eFinancial Times –, as críticas mais contundentes expõem problemas recorrentes, como o choque de duas culturas (legitimidade e aplicação); o declínio do envolvimento dos participantes, mais preocupados com onetworking e atividades sociais e menos envolvidos com o processo de aprendizado; a composição do corpo de professores (acadêmicos x profissionais de mercado); e o domínio (quase) absoluto de aulas unicamente expositivas, em detrimento das possibilidades do guarda-chuva denominado Participant-Centered Learning (PCL) – aprendizado centrado no participante. 

Como ensinar temas como liderança, globalização, inovação, criatividade e ética, dentre muitos outros? Na tentativa de responder a todas essas críticas e reinventar suas ofertas, novas tendências saltam aos olhos:

– Redução do tempo de integralização;
– Flexibilidade curricular;
– Importância crescente de rankings e reputação nos critérios de escolha;
– Necessidade imperativa de modelos mais centrados no participante (aprendizado experiencial).

Escolas em todo mundo têm também experimentado novos formatos: a London School of Business and Finance(LSBF) oferece um MBA através de mídias sociais, o INSEAD (França) vende conteúdos educacionais pela Itunes Store da Apple e a Sloan School of Management (MIT) disponibiliza conteúdos online sem custo algum pela Internet. 

Diante de todas as questões que aqui exponho, a grande conquista é a ampliação da discussão curricular, tradicionalmente e simploriamente associada ao “sequenciamento de disciplinas”. Currículo também significa um conjunto de escolhas nos seguintes quesitos:

– Conteúdo: conceitos, teorias, técnicas, estilos de pensamento, disciplinas obrigatórias e eletivas;
– Pedagogia: métodos e processos, aulas expositivas, estudos de caso, simulações, jogos e trabalhos de campo/em equipe;
– Arquitetura: estrutura e sequenciamento de disciplinas, percurso formativo do aluno e joint-degrees;
– Proposta de valor: propósitos educacionais aos quais o currículo serve e perfil do egresso.

As conclusões nos remetem à necessidade de se reequilibrar o processo na tríplice perspectiva do SABER (fatos, modelos e teorias que conformam o repertório de uma profissão ou prática), FAZER (capacidades e técnicas que possibilitam a prática/execução) e SER (compromissos e propósitos que constituem o caráter de um indivíduo, sua visão de mundo e identidade profissional).

 

Fonte: Portal HSM, 18 de julho 2012

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